FATHEL - FACULDADE THEOLÓGICA

quarta-feira, agosto 13

Opinião

A EPÍSTOLA DE TIAGO PARA O PÚLPITO DA PÓS - MODERNIDADE
Em quê Tiago pode falar à Igreja de hoje. Se ocupasse nossos púlpitos, que diria ele aos membros de nossas igrejas? Fosse falar num encontro de pastores, que diria ele? Em nossos púlpitos, que nos diria ele?
Verberaria contra a espiritualidade descarnada, enfatizando a necessidade de fé evidenciada por obras (Tg 2.14-26). Este é um dos grandes males da Igreja contemporânea. Vida cristã passou a ser algo que acontece num determinado dia, num determinado lugar, sob o comando de determinadas pessoas. Vida cristã é o que fazemos num momento chamado de “culto”. Achamos que participar de um culto e cantar corinhos ingênuos, fazendo um ar beatífico é o maior sinal de sermos cristãos. A fé se mostra nas obras. “Pelos frutos os conhecereis”, disse Jesus (Mt 7.20). Não foi “pelo seu louvor os conhecereis”, mas “pelos seus frutos”. Uma Igreja sem obras, com uma fé intimizada, sem objetividade no mundo, é uma incoerência.
Diria também que não podemos fazer acepção de pessoas, como disse em 2.1-9. Há comunidades cristãs que fazem claramente distinção social. Algumas chegam a ser guetos de uma classe média que se julga importante e que amoldou o evangelho às suas expectativas sociais. Um dos nossos grandes problemas hoje é “diferencialidade”. Como apregoamos nossa diferença! Há igrejas que, mesmo recebendo uma pessoa de outra igreja da mesma fé e ordem, exige dela que vá para uma classe especial, porque aquela igreja é diferente. Uma espécie de classe de reeducação. Em outras palavras: “somos melhores que sua igreja e você precisa aprender nossa cultura particular”. Vaidade, orgulho, mundanismo. Igrejas e denominações que se julgam acionistas majoritárias do céu e das promessas de Deus.
Tiago falaria da “língua solta”, doença comum em nosso meio e que ele mencionou em 3.1-12 e 4.11. Como se fala mal da vida alheia nas comunidades cristãs! Como se ataca a reputação dos outros! Muito dos bastidores eclesiásticos e denominacionais em nada difere dos bastidores do mundo. Particularmente, em 30 anos de ministério, sofri mais com a língua dos irmãos e dos “colegas” do que com a dos incrédulos. Estes sempre me respeitaram. Os crentes e colegas, já perdi a conta....
Falaria da avareza social de muitas igrejas, como fez em 5.1-6. Há igrejas buscando riquezas e fugindo do sofrimento. Querem o trono sem a cruz. É novamente a questão de Militante e não Triunfante. Mas falo, agora, da vista grossa à bandalheira social deste país. Da orgia com verbas públicas sendo usadas para projetos fantasmas, ranários fantasmas, etc. O pobre depende de hospitais de baixa qualidade. Soa-me estranho ver governantes de outros estados, quando têm problemas graves de saúde, virem a S. Paulo para se tratarem. Por que não se tratam nos hospitais que dão para seu povo? Uma classe política que vive nababescamente, votando salários miseráveis para o povo. Esta mesma classe, muitas vezes, é adulada por igrejas que cortejam o poder público. Votos são trocados por tijolos ou concessões outras. Tiago lembraria uma frase em Amós 6.6: não vos afligi com a ruína de José”. Os zés da vida não são considerados.
Esta avareza social seria mostrada em salários miseráveis pagos a zeladores e funcionários de igrejas. Em direitos trabalhistas que igrejas e instituições evangélicas negam a seus funcionários. No escamoteamento que se faz para se driblar leis que trazem benefícios. Tiago falaria do perigo das riquezas. A Igreja de Laodicéia era rica, mas aos olhos de Jesus era mendiga (é este o sentido do termo grego lá empregado).
Muitas outras coisas Tiago falaria e nos seria incômodo. Nos o ouviríamos ou faríamos como Ananias, o sumo sacerdote em Jerusalém, que segundo Flávio Josefo, mandou apedrejá-lo
[1]?
Referências Bibliográficas
[1] BAXTER, Sidlow J. Examinai as Escrituras – Atos a Apocalipse. S. Paulo: Edições Vida Nova, 1989, p. 309. O itálico é de Baxter.
Texto adaptado para pesquisa por:
Pr.Hélio Pereira dos Anjos

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