FATHEL - FACULDADE THEOLÓGICA

terça-feira, abril 5

O herege!

Sobre Fé e conhecimento

Por:
*Marcos Henrique Garcia dos Anjos

Foi questionado com respeito à possibilidade de a teologia ou a sociologia ter me deixado incrédulo. Esse questionamento me levou a algumas reflexões úteis com respeito à questão religiosa pós-moderna e como ela coloca os pressupostos das questões.

Primeiramente, uma questão religiosa precisa de uma base bíblica que ser colocada. E de fato, a questão foi recheada com o texto de Genesis capitulo três onde a mulher come o fruto da arvore do bem e do mal. Na perspectiva da maioria dos evangélicos, e na quase totalidade dos pentecostais, a tal arvore é a arvore do conhecimento, e não a arvore que dá conhecimento do bem e do mal. Aparentemente um mísero jogo de palavras, mas que pode provocar profundas mudanças de significados sobre o tema de que estamos falando. O texto hebraico não diz nada de conhecimento, está falando dos cultos iniciáticos babilônicos ou egípcios, onde a prosperidade era obtida por meio do conhecimento esotérico, que geralmente eram guardados pelo deus serpente. Não é necessário ser um gênio para deduzir isso a partir do texto, e de qualquer comentário que preste, ou um livro de arqueologia da religião antiga.

Segundo ponto é que não sou Crente. Lembro-me do saudoso Fox Molder (Arquivo X anos 90), que tinha um quadro escrito eu quero acreditar. Eu digo, eu não quero acreditar....e isso deve-se ao simples fato que se Deus existe, eu não preciso me desdobrar existencialmente para compreende-lo, ou ainda, para senti-lo. Se Deus se manifesta como Fenômeno, e não como discurso, eu não preciso crer para percebê-lo, imagine quanto incrédulos havia dentre o povo de Israel ao cruzarem o mar vermelho ou quando Jesus multiplicou os pães. Se Deus depende da crença de alguém para fazer sua vontade, então ele é fruto da imaginação das pessoas, e não passa de fenômeno parapsicológico barato. Se Deus existe de fato, existe independentemente da minha opinião, crença ou conhecimento.

Em terceiro lugar, o conhecimento é algo importante, principalmente quando desejamos entende o que é o homem (e a mulher). Os humanos não passam de um bando de macacos e macacas sem pelos, que pensam. Se crê-se em Deus, crê-se de forma consciente e razoável. Os animais podem até adorar a Deus, mas não crêem, porque não pensam racionalmente sobre as coisas, apenas se relacionam com o ambiente sensível. O conhecimento liberta da religiosidade idiota. Os textos do Velho Testamento ensinam uma religião materialista e simples, onde apresenta-se o sacrifício, toma-se seu vinho e trabalha-se. O Novo Testamento semelhantemente ensina que não devemos ser religiosos de forma alguma, deve é ter amor pelas pessoas e fazer o que é certo. No evangelho de João (Favor ler o texto), ele transforma a água da religião judaica em vinho da alegria das festas ágape, sim, é vinho, somente os analfabetos da Bíblia de estudos pentecostal é que acreditam que aquilo não seria vinho. Depois ele ensina Nicodemos que tem que nascer de novo, ou seja, purificar por fora, com água, livrando-se da pratica do pecado e da religião farisaica, em seguida fala da limpeza interior, modificando o espírito (pneuma = vento = vida interior, humor e sentimento), com pensamentos coerentes com a vontade de Deus; depois Jesus ensina uma Mulher samaritana que Deus se adora em espírito e em verdade, e não no templo de Jerusalém ou na Samaria. Dualidade espírito e verdade, segue o mesmo raciocínio da relação água e espírito, pois verdade é a realidade material da coisas. No texto seguinte, Jesus cura um aleijado dentro de um templo pagão de culto aos anjos. Logicamente que os analfabetos bíblicos acham que a Igreja tem que ser Betesta, mas Betesda era apenas um “centro espírita” com um gêiser de águas termo-ferruginosas. Recomendo que aprendam a ler a Bíblia...

Por assim dizer, eu não creio no paradigma crer para entender, e muito menos no reverso entender para crer. Acredito que o conhecimento de Deus é simples, pois aponta para o homem como finalidade da ação (missão), demonstra, entre outras coisas, que a religião é inútil, e que crer em Jesus implica em uma prática coerente de vida. A religiosidade é totalmente desnecessária, e a Bíblia ensina isso, tanto que no Livro do Apocalipse está escrito que no reino de Deus não haverá mais templos. Ou seja, a vontade de Deus é que seus filhos e filhas expressem sua vontade e seu reino no mundo, isso não significa igrejas, templos, programas mentirosos de TV, dízimos e ofertas, significa apenas que seus filhos sigam o exemplo de Jesus, amando o próximo e vivendo da melhor forma possível.
 
Prof. Marcos Garcia é:
Bacharel em Agronomia (FEIS-UNESP/SP)

Formação em Teologia (Seminário Sul Americano/MS)
Especialização em Didática do Ensino Superior (FATHEL-UNIFIL/PR)
Especialização em Crescimento de Igreja MDiv (Faculdade Sul Americana/PR)
Bacharel em Ciências Sociais (UFMS/MS) - em andamento