FATHEL - FACULDADE THEOLÓGICA

quarta-feira, junho 1

Por um cristianismo mais humano e menos institucional


Nos últimos anos, tivemos uma enxurrada de publicações das obras de Tolstói em português (1), a maioria das traduções feitas diretamente do russo.

Liev Tolstói (1828-1910) foi um grande romancista russo, internacionalmente conhecido pelos clássicos Guerra e Paz (Tolstói, 2007a) e Anna Karienina (Tolstói, 2009a). Foi rico, um filho da aristocracia, e casou-se com Sófia Sônia Andrêievna Bers (1844-1919), com quem permaneceu casado por 48 anos e teve 13 filhos. No final de sua vida, tornou-se pacifista e escreveu textos questionando a autoridade das igrejas, dos governos e a noção de propriedade privada – textos como O reino de Deus está em vós, de 1893, que acaba de receber esta nova edição (Tolstói, 2011a). Recentemente, também foi lançado o livro Os últimos dias de Tolstói (Tolstói, 2011b), que apresenta cartas, discursos e ensaios elaborados, entre 1882 e 1910, pelo célebre autor russo.

Tentamos ler novamente o livro O reino de Deus está em vós (ou O cristianismo apresentado não como uma doutrina mística mas como uma moral nova) (Tolstói, 2011a), desta vez sem levar em conta algumas ideias que consideramos refutáveis. Não temos a intenção de desqualificar a obra de Tolstói, muito menos deixar de reconhecer suas inegáveis e radicais contribuições. Sabemos que é recorrente o fato de muitos cristãos o classificarem como deísta e, a partir desta chave de leitura, desqualificarem tudo o que partiu de sua pena. O próprio Tolstói reconheceu isto no livro: “censuraram-me pela interpretação errada de uma ou outra passagem da Bíblia; porque não reconheço a Trindade, a Redenção e a imortalidade da alma” (p. 39).

Duvidamos da possibilidade, supostamente enunciada por Tolstói, do ser humano alcançar plenamente a Verdade ou assimilar o cristianismo de forma pura. Admitimos que sua obra está impregnada com a ideia de progresso, própria de sua época. São muitas as referências a um suposto “desenvolvimento” ou “progresso da consciência”, “progresso da humanidade” (2) – evidente no exemplo dos cavalos atrelados a uma carroça (cf. p. 323) – que, após o nazismo e outras experiências desastrosas dos séculos vinte e vinte e um, tornou-se insustentável. Mas em outros momentos da obra, Tolstói parece negar este “progresso”. E o fato desta obra ter despertado Mahatma Gandhi e diversos movimentos para o princípio da não-violência já é suficiente prova de sua relevância.

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